Haroldo Ribeiro e Chat-GPT

A metodologia 5S é amplamente reconhecida como uma ferramenta essencial para a melhoria da organização, produtividade e eficiência nos ambientes corporativos. No entanto, sua implantação enfrenta desafios significativos, que geram inquietações entre os coordenadores responsáveis por sua execução. O processo de manutenção e continuidade do programa 5S é um dos pontos mais delicados, pois depende diretamente do engajamento da equipe e da adesão às práticas propostas. Diante desse cenário, uma pesquisa realizada com 28 coordenadores do programa revelou aspectos críticos que merecem atenção e uma reflexão mais aprofundada.
Principais inquietações na implantação do 5S
A pesquisa indicou que a maioria dos coordenadores já conhecem a metodologia de implantação do 5S (68%), com um grau de conhecimento variando entre avançado e intermediário (82%). Apesar desse conhecimento, muitos relataram que a consolidação dos conceitos ainda é frágil: 57% afirmaram conhecer os conceitos de maneira incipiente, enquanto apenas 25% os compreendem de forma estruturada, com resultados visíveis.

Fonte: UBQ
Uma das maiores dificuldades apontadas pelos coordenadores é manter a disciplina ao longo do tempo, sendo essa a maior preocupação para 68% dos entrevistados. Além disso, a falta de engajamento da equipe foi mencionada por 21% dos participantes, reforçando a necessidade de uma abordagem estratégica para garantir a adesão ao programa.

Fonte: UBQ
Outro dado relevante é que 54% dos respondentes indicaram que o Shitsuke (disciplina) é o elemento mais difícil de ser implantado, seguido pelo Seiketsu (padronização), apontado por 29%. Esses elementos estão diretamente ligados à manutenção dos benefícios alcançados pelo 5S, tornando-se desafios constantes para os coordenadores.

Fonte: UBQ
No que diz respeito às expectativas dos coordenadores, 46% demonstraram interesse em saber como engajar melhor a equipe, enquanto 29% buscam maneiras de promover melhorias contínuas no programa. Os objetivos mais almejados incluem aumentar a produtividade e eficiência (50%) e melhorar o ambiente de trabalho (29%). Além disso, 64% dos coordenadores acreditam que o 5S deve contribuir para a melhoria da cultura organizacional.
Análise dos desafios identificados
Um dos pontos críticos observados é que muitos coordenadores não se aprofundam na bibliografia específica sobre o 5S, inclusive não recorrendo a treinamentos intensivos e benchmarkings. Essa lacuna pode contribuir para dificuldades na implantação e na manutenção do programa, especialmente nos dois últimos "S" (Seiketsu e Shitsuke), que exigem um comprometimento contínuo.
A dificuldade para manter a prática desses dois últimos "S" também está relacionada ao desconhecimento da funcionalidade e dos benefícios de cada um dos cinco sensos. Sem essa clareza, os colaboradores tendem a encarar o 5S apenas como uma exigência burocrática, em vez de uma ferramenta para otimizar o ambiente de trabalho. É fundamental que a equipe compreenda como o 5S contribui para a redução de desperdícios, melhoria da produtividade, prevenção de acidentes e aprimoramento do clima organizacional.
Outro fator relevante é que muitas equipes ainda enxergam o 5S apenas como um programa de ordem e limpeza, focado mais em aparências e auditorias do que em seus benefícios concretos. Esse equívoco prejudica o engajamento, pois os colaboradores não percebem a relação entre o 5S e a resolução de problemas do dia a dia, como desperdício, desorganização, riscos de acidentes e falta de senso de propriedade. Para mudar essa visão, é necessário destacar que o 5S vai além da organização estética e impacta diretamente a eficiência e a segurança operacional.
Além disso, a falta de engajamento é uma questão recorrente porque as pessoas, em diferentes setores e níveis hierárquicos, não associam o 5S às suas dores e necessidades diárias. A falta de uma abordagem personalizada faz com que a equipe perceba o programa como uma obrigação imposta pela gestão, e não como uma ferramenta para facilitar o trabalho e melhorar o ambiente corporativo. É essencial que o 5S seja comunicado e aplicado de forma a evidenciar seus benefícios tangíveis e adaptá-lo às particularidades de cada setor.
Para superar essas dificuldades, é essencial que o 5S seja implantado com uma abordagem top-down, na qual as lideranças assumam um papel ativo na promoção da metodologia. Quando os gestores adotam o 5S como parte da cultura organizacional e demonstram sua importância no dia a dia, o engajamento das equipes tende a ser maior. Um processo de sensibilização bem estruturado, destacando o 5S como um aliado para resolver problemas reais da empresa, pode fazer com que os colaboradores se envolvam mais e vejam valor na iniciativa.
Além disso, é necessário utilizar uma metodologia de implantação que seja suave, consistente e gere resultados perceptíveis. Pequenos ganhos rápidos, quando bem comunicados, ajudam a fortalecer o comprometimento da equipe e a manter o programa ativo a longo prazo. A transformação cultural não acontece de forma imediata, mas com persistência, resultados graduais e um acompanhamento estruturado, o 5S pode deixar de ser visto como uma obrigação e se tornar um verdadeiro aliado para a excelência operacional.
Conclusão
A implantação do 5S traz consigo desafios significativos, que geram inquietações constantes entre os coordenadores responsáveis pelo programa. A pesquisa revelou que a dificuldade em manter a disciplina e engajar as equipes são os principais entraves para o sucesso do 5S. Além disso, muitos profissionais ainda não aprofundam seus conhecimentos na metodologia, o que compromete a qualidade da implantação e sua perenidade.

Para que o 5S cumpra seu verdadeiro papel e contribua para a melhoria da cultura organizacional, é fundamental que as lideranças apoiem sua execução com estratégias bem definidas e com um foco claro nos benefícios concretos da metodologia. A persistência, o comprometimento e a abordagem correta podem transformar o 5S de um programa de ordem e limpeza em uma ferramenta poderosa para a excelência operacional e a evolução organizacional a longo prazo.
Haroldo Ribeiro é consultor especializado no Japão, e autor de 36 livros sobre 5S e TPM, desde 1994.
E-mail: pdca@terra.com.br
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