Neste artigo, eu quero abordar o tema 5S a partir de três exemplos. Dois deles você deve conhecer, ou pelo menos, já ouviu falar. E o terceiro é bastante didático e ilustrativo.
Vamos lá?
1º exemplo - O uso consciente de recursos em uma startup sustentável
Vamos imaginar uma startup comprometida com a sustentabilidade ambiental. Nessa empresa, os fundadores e colaboradores reconhecem os benefícios de adotar práticas que reduzam o consumo de recursos naturais e promovam a eficiência energética.
Após implementar uma campanha interna de conscientização sobre o uso consciente de recursos, os colaboradores são incentivados a adotar medidas simples, como desligar equipamentos elétricos quando não estão em uso, utilizar iluminação natural sempre que possível e reduzir o desperdício de papel através do uso de documentos digitais.
No início, alguns colaboradores adotam essas práticas apenas por uma questão de cumprimento de normas internas ou de incentivos da empresa. No entanto, à medida que a conscientização aumenta e eles compreendem os impactos positivos dessas ações para o meio ambiente, e a mudança de comportamento se torna mais significativa.
2º exemplo - O comportamento das pessoas em escritórios compartilhados
Enquanto algumas empresas adotam espaços de trabalho colaborativo, mantendo um ambiente limpo, organizado e propício à produtividade, outras não se preocupam com a manutenção e acabam tendo ambientes desordenados e pouco agradáveis. Nesse contexto, é comum notar que as pessoas se adaptam ao ambiente em que estão inseridas.
Nos escritórios que valorizam a organização e a limpeza, os colaboradores tendem a manter seus espaços arrumados, a respeitar as áreas comuns e a contribuir para a harmonia do ambiente. Já nos ambientes desorganizados e sujos, a tendência é que as pessoas se comportem de forma menos responsável, fazendo bagunça e contribuindo para uma atmosfera de desordem.
3º exemplo - O Macaco e o Banho Gelado
Imaginemos um experimento realizado por psicólogos comportamentais. Cinco macacos são colocados em uma sala com uma escada e um cacho de bananas pendurado no teto. A princípio, quando um dos macacos tenta subir na escada para pegar as bananas, todos os macacos são atingidos por um jato de água gelada.
Após alguns episódios repetidos, os macacos associam a ação de subir na escada com o desconforto do banho gelado e, naturalmente, evitam fazê-lo. Com o tempo, o jato de água gelada é desligado e substituído por um macaco novo, que não conhece o banho gelado.
Quando o novo macaco tenta subir na escada para pegar as bananas, os outros macacos, mesmo sem saber mais o motivo do desconforto, o impedem de fazer isso devido à experiência anterior. O novo macaco é punido por um comportamento que ele nem mesmo conhece.
O experimento continua com a substituição de cada macaco original por um novo, um de cada vez. A cada substituição, os macacos existentes impedem o novo macaco de subir na escada, mesmo sem saber porquê, simplesmente seguindo o padrão estabelecido anteriormente.
No final do experimento, temos um grupo de macacos que nunca recebeu o banho gelado, mas todos os macacos se abstêm de subir na escada, porque assim foi estabelecido pelos macacos anteriores.
o ambiente pode influenciar no comportamento do indivíduo, ou em um grupo de pessoas de uma forma positiva ou negativa.
Eu utilizei estes três exemplos para mostrar como o ambiente pode influenciar no comportamento do indivíduo, ou em um grupo de pessoas de uma forma positiva ou negativa. No primeiro exemplo, à medida que os colaboradores adquirem conhecimento sobre a importância do uso consciente de recursos, eles revêem suas atitudes e mudam seus comportamentos naturalmente. O que começou como uma prática motivada por normas ou incentivos, transforma-se em um hábito enraizado, onde os colaboradores adotam essas práticas de forma natural e por convicção própria.
O segundo exemplo, ressalta a importância do ambiente físico e da cultura organizacional na formação dos comportamentos individuais e coletivos. Ao criar um ambiente de trabalho agradável, limpo e organizado, as empresas têm maior probabilidade de influenciar positivamente o comportamento de seus colaboradores, promovendo maior produtividade e satisfação no trabalho.
O terceiro exemplo, demonstra como comportamentos podem ser transmitidos de geração em geração, mesmo quando não há mais uma razão lógica para fazê-lo. É uma reflexão sobre o poder da cultura, das normas sociais e da influência coletiva na manutenção de comportamentos estabelecidos.
A conclusão é a de que o ambiente de trabalho exerce uma influência significativa no comportamento das pessoas e pode ser moldado para incentivar práticas mais eficientes, colaborativas e de qualidade.
O diagrama de Hersey, também conhecido como Modelo de Maturidade Comportamental de Hersey-Blanchard, foi criado em 1969 pelos psicólogos Paul Hersey e Kenneth H. Blanchard. Esse modelo é amplamente utilizado no campo da liderança e do comportamento organizacional para entender e gerenciar a adaptação e o desenvolvimento dos colaboradores em relação a tarefas e responsabilidades.
Os autores analisam as mudanças organizacionais à luz dos ciclos de mudança participativa (o gerente envolve o indivíduo ou grupo nas questões que dizem respeito à mudança desejada, colocando à disposição do pessoal da organização novos conhecimentos) e mudança diretiva (há imposição da mudança a toda a organização por uma força externa, como a alta direção).
A primeira figura (Ciclo do Conhecimento – Comportamento Natural) apresenta as mudanças decorrentes de uma prática participativa, em que por meio do conhecimento da informação, as pessoas podem mudar as suas atitudes, depois mudam o seu comportamento pessoal e, por último, elas poderão promover uma mudança no comportamento coletivo.
A segunda figura (Ciclo da Ação - Comportamento Induzido) apresenta as alterações resultantes de uma iniciativa direcionada, onde através de uma decisão tomada por uma liderança, há uma mudança do comportamento coletivo. Caso esta decisão permaneça por um tempo, há uma mudança no comportamento individual e posteriormente na atitude, até que o conhecimento seja internalizado.
Tudo junto e misturado!
O diagrama de Hersey, oferece uma perspectiva sobre as mudanças comportamentais nas pessoas. A partir dos exemplos apresentados, podemos tirar algumas conclusões:
A conscientização e o conhecimento são essenciais para mudar comportamentos: quando as pessoas recebem informações e entendem os benefícios de um determinado comportamento, elas são mais propensas a adotá-lo.
O ambiente exerce influência no comportamento: o contexto e o ambiente físico e social em que as pessoas estão inseridas desempenham um papel importante na formação e na manutenção dos comportamentos. Ambientes organizados, limpos e propícios à produtividade tendem a influenciar comportamentos mais adequados e positivos.
A mudança comportamental pode ocorrer por necessidade ou convicção: algumas pessoas mudam seus comportamentos apenas para evitar punições ou consequências negativas. No entanto, quando a mudança é sustentada e duradoura, ela ocorre por meio da internalização dos novos conhecimentos e da compreensão dos benefícios individuais e coletivos.
Em suma, a conclusão do diagrama de Hersey é que o conhecimento, a conscientização e o ambiente são elementos-chave para promover mudanças comportamentais efetivas. Ao aplicar essas conclusões na implementação do programa 5S ou em outras iniciativas de gestão de comportamento, é possível criar um ambiente propício à melhoria contínua e ao desenvolvimento de hábitos que impulsionem a excelência organizacional.
Programa 5S e Cultura Organizacional
O programa 5S foi desenvolvido no Japão na década de 1960. Foi uma das metodologias fundamentais do Sistema Toyota de Produção, conhecido também como Lean Manufacturing. Desde então, o 5S tem sido amplamente adotado e aplicado em diversos setores da indústria japonesa e em todo o mundo como uma ferramenta de gestão para promover a organização, limpeza e eficiência nos locais de trabalho.
Embora tenha passado mais de meio século desde a sua criação, o 5S ainda é pouco compreendido pela maioria das empresas brasileiras que restringem o seu entendimento apenas a questões relacionadas à limpeza.
Muitas dessas empresas, contudo, enfrentam problemas decorrentes de aspectos comportamentais, porém desconhecem uma solução sistemática, simples, acessível e comprovada para resolvê-los: o 5S.
Com a implementação do 5S, é possível promover uma transformação no ambiente de trabalho e estabelecer uma cultura organizacional de excelência em sua empresa. A partir de uma abordagem comportamental, fica mais fácil explicar a sistemática de implementação do 5S em dois passos:
Passo 1 - Reconhecimento do problema
O problema é a diferença entre o estado atual e o estado desejado. É uma questão relativa, uma vez que a percepção do que se tem e a expectativa do que se deseja dependem das referências e necessidades das pessoas.
Dentro de uma empresa, o reconhecimento do problema pode ocorrer por iniciativa de algumas pessoas, acionistas, clientes, fornecedores ou órgãos fiscalizadores que representam a sociedade. Desperdício, desordem, sujeira, poluição, acidentes, defeitos, indisciplina, falta de comprometimento, falhas frequentes em equipamentos e/ou dificuldades na implementação de melhorias são realidades em várias organizações, mas que demoram a ser reconhecidas.
Esses problemas muitas vezes são causados por deficiências comportamentais, independentemente do nível hierárquico ou da área de atuação. Parecem problemas pequenos quando isolados ou mal analisados, mas quando somados e associados a outros, geram um grande custo. São problemas que ocorrem a todo o momento, a cada minuto, e passam despercebidos pela liderança.
Portanto, o primeiro passo na implementação do 5S é reconhecer e se preocupar com os problemas cujas causas estão ligadas a deficiências comportamentais e cujas consequências podem ser drásticas.
Passo 2 - é entender que a mudança comportamental é essencial para o atingimento de resultados excepcionais em qualquer organização.
Implantar o 5S de forma efetiva requer uma mudança comportamental das pessoas envolvidas. Não basta apenas organizar e limpar o ambiente de trabalho, é preciso que os colaboradores incorporem os conceitos e práticas do 5S em suas rotinas diárias. Isso envolve a conscientização sobre a importância da disciplina, do comprometimento, da responsabilidade e da busca constante pela melhoria. O 5S não é um programa de curto prazo, pois trata-se de um programa de mudança de cultura organizacional.
No meu próximo artigo eu trarei as recomendações importantes para a aplicação do 5S nas organizações e falarei um pouco mais sobre cada S.
Até lá!
Brilhante!
Excelente artigo. Parabéns.